- Mar 26, 2018
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Updated: May 14, 2018

“O território da Itália é menor do que grande parte dos estados Brasileiros, verdadeiro ou falso?” Verdadeiro!
“Se a velha bota é relativamente pequena, então em um mês de férias eu aproveito ao máximo “la dolce vita”, e não preciso mais voltar, verdadeiro ou falso?” Falso, amico! Dolce engano!
A despeito de seu tamanho, a Itália é uma avalanche de aromas e experiências totalmente diversas quando o assunto é viagem. Em apenas uma passagem por lá, dá para sentir o belíssimo perfume do molho da nonna, mas não se surpreenda se ficar aquele gostinho bom de quero mais. Se gostar do cheiro, vale à pena voltar para sentir o gosto do molho e a textura da pasta feita artesanalmente.
Paisagens que vão dos imponentes Alpes no Norte até as paradisíacas praias do Sul. Culturas muito diferentes e fortes tradições regionais em cada cantinho da bota. Sotaques carregados e diferentes dialetos em cidades vizinhas.

A Itália é uma avalanche de aromas e experiências totalmente diversas quando o assunto é viagem.
Um fato histórico interessante, é que a unificação Italiana foi uma das últimas no continente Europeu , se concluiu no final do século XIX, pode-se considerar tardia e recente com relação às demais.
Talvez ligado a esse passado de uma Itália dividida, é comum os Italianos do norte chamarem os Italianos do sul de terrone (termo ligado ao trabalho na terra). Já os do sul respondem aos Italianos do norte chamando-os de polentone (polentão, comedor de polenta). O único consenso na Itália é a forte personalidade, orgulho, TRA DI ZIO NE!
Coloque Italianos de diversas regiões juntos e puxe o assunto de culinária. Uma pergunta despretensiosa em pauta, por exemplo, “O que vocês me recomendariam comer no jantar? Pesto alla Genovese, bisteca alla Fiorentina ou cannoli alla Siciliana?” Pronto, caro! A discussão está armada e vai até o sol raiar, mas tudo deve terminar em pizza, pasta e vinho no final.

Tive uma experiência na minha última passagem por lá, acho que descreve bem esse jeito espontâneo e despachado do Italiano.
O cenário era Florença, ícone da arte renascentista, estava me deleitando nos museus, uma viagem no tempo, tanto que perdi a noção de que horas eram. Faminta, olhei no relógio, 14h05, andiamo a mangiare! Era uma região turística com vários restaurantes. Resolvi entrar em um que me pareceu agradável. Chegou o garçom. Perguntei por educação (com meu italiano enferrujado) se estava aberto. E qual foi minha surpresa com sua resposta. “Signorina, ma no! Olha a hora, já é tarde! Arrivederci!”. Só faltou me jogar para fora. Depois das 14h não acharia mais comida, da forma como ele falou isso parecia óbvio.
Mas eu sou Brasileira e não desisto nunca! Tinham ainda muitos restaurantes em volta. Minha estratégia mudou: não procurei mais por um restaurante agradável, passei a procurar o que o garçom teria mais cara de amigável. Achei! Uma mocinha aparentemente delicada, essa vai ser mais doce, pensei. Timidamente perguntei: “Está aberto? A resposta: “Signorina, mas é claro! Veja tutta la gente na rua. É alta temporada, óbvio que está aberto!”. De novo o tom indicava o descabimento de minha genuína pergunta.
Confesso que por um momento fiquei a ponto de perder as estribeiras, mas a alegria em poder comer uma bella pasta falou mais alto. Bem alimentada, refleti sobre aquele episódio e comecei a rir sozinha, pois é a clara situação em que nos deparamos com uma cultura diferente da nossa, isso nunca aconteceria no Brasil.
Lembrei-me da primeira vez que pisei na Itália, estava no aeroporto com meu namorado (atual marido), que tem origens Italianas, diga-se de passagem. Um funcionário passou com um carrinho cheio de malas e quase me atropelou gritando “Atenzione!”. Fiquei indignada, e meu marido comentou que eu iria me acostumar, e que não foi ofensivo, era o jeito de pedir licença. Bastaram dois meses morando lá e quando ia fazer compras no mercado estava eu falando “atenzione” para todo lado com meu carrinho, e o mais legal é que ninguém se ofendia. O mosquitinho da espontaneidade Italiana havia me picado, e olha, não foi ruim.
Quando algum cliente solicita que eu elabore um roteiro de Itália, minha primeira reação é conversar para saber mais. Geralmente a primeira questão importante é saber se a pessoa já conhece. Sendo a primeira vez, dependendo do perfil, eu recomendo passar um tempo em cada região para sentir um pouco esta diversidade de cada canto.

Agora, se já conhece, existem mil roteiros possíveis, interessante é adentrar o cotidiano e sair do lugar comum. Mergulhar na essência de cada Itália. Toscana com seus hotéis cheios de história, castelos, lindos vales, vinícolas, ciprestes, estradas cênicas. Costa Amalfitana com praias panorâmicas, vistas incríveis. Pertinho dali a badalada Capri e as incríveis ruínas milenares de Pompeia. Sardegna e Sicilia, belas ilhas com praias paradisíacas e muita cultura. A região do Veneto que vai muito além de Veneza. A autenticidade de Puglia, com suas cidadelas cheias de história, foge da rota tradicional, mas em termos de beleza natural, arquitetura e gastronomia é um encanto. Ao norte, a imponente e pouco procurada por turistas, Turim. Os Alpes, ski no inverno, lagos no verão, enfim vou parar por aqui, pois cada um desses lugares mereceria um post a parte.

O que pode ajudar a explicar toda essa riqueza e diversidade é a riquíssima história Italiana. Quantas civilizações, berço artístico, religioso, uma relação ímpar com a culinária, uma região provida de grandes belezas naturais, um povo que já viveu glórias e sofrimentos, e que transmite de geração em geração suas tradições. Um povo que está extremamente ligado ao sentimento, afeto, isso se sente na atmosfera ao pisar na bella Itália, país tão particular e tão ligado ao nosso Brasil. Brasil que acolheu muitos imigrantes e até hoje tem em um de seus tantos traços, forte presença da cultura Italiana. Para o Brasileiro, visitar a velha bota pode ser uma oportunidade de aprofundar a conexão com essa marca de sua própria cultura. Ciao Bella, ciao Bello, arrivederci!





